![]() 22/12/2010 10h40
VIRGINDADE FECUNDA
Ludolfo de Saxe (c. 1300-1374), dominicano, mais tarde cartuxo em Estrasburgo
A Vida de Jesus Cristo (a partir da trad. Au Commencement, Parole et Silence 2004, pp. 81ss. rev.)
«Pôs os olhos na humildade da Sua serva» (Lc 1, 48)
A concepção de Nosso Senhor foi prefigurada pelo arbusto a arder que se queimava sem perder o viço (Cf. Ex 3, 2), tal como Maria concebeu o seu divino Filho sem perder a virgindade. O Senhor, que morava nesse arbusto a arder, habitou igualmente no seio de Maria. Do mesmo modo que desceu ao arbusto para libertar os hebreus e tirá-los do Egito, Ele também desceu ao seio de Maria para resgatar os homens e arrancá-los do inferno.
A escolha de Maria, feita por Deus entre todas as mulheres para Se revestir da nossa carne, foi também prefigurada pelo velo de Gedeão (Cf. Jz 6, 36 ss.). Com efeito, do mesmo modo que só aquele velo acolheu o orvalho celeste enquanto toda a terra à sua volta estava seca, assim apenas Maria ficou cheia desse orvalho divino do qual no mundo inteiro se mostrou digna mais nenhuma criatura. A Virgem Maria é este velo com o qual Jesus fez para Si uma túnica. O velo de Gedeão recebeu o orvalho do céu sem ficar adulterado; Maria concebeu o Homem-Deus sem alterar a sua virgindade.
Jesus, Filho de Deus vivo, que pela vontade do Pai celeste e a cooperação do Espírito Santo saíste do seio de Deus Pai assim como o rio manou do Paraíso de delícias (Cf. Gn 2, 10), e visitaste as profundidades dos nossos vales ao olhar para a humildade da Tua serva, descendo assim ao seio duma virgem no qual, por inefável concepção, foste revestido de carne mortal; suplico-Te, misericordioso Jesus, pelos méritos desta Virgem, Tua Mãe, que espalhes a Tua graça sobre mim, indigníssimo servo, a fim de que Te deseje com ardor, e pelo Teu amor Te conceba no meu coração para que, com o auxílio dessa graça, possa produzir o fruto salutar das boas obras. Amém.
Paz e Bem!
©Evangelizo.org 2001-2010 Publicado por Frei Fernando Maria em 22/12/2010 às 10h40
20/12/2010 06h15
E O VERBO ETERNO ESCONDEU-SE NO SILÊNCIO, MAS QUANDO SE DEU A CONHECER, NOS TIROU DO TORMENTO...
Bem-Aventurado Guerric de Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense - Sermão 3 para a Anunciação, 2-4 (a partir da trad. Sr Isabelle de la Source, Lire la Bible, t. 6, p. 38)
«O próprio Senhor vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá»
«O Senhor mandou dizer de novo a Acaz: 'Pede ao Senhor teu Deus um sinal'. Acaz respondeu: 'Não pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor'.» (Is 7, 10-12) [...] Pois bem, a este sinal recusado [...] acolhemo-lo nós com uma fé ilimitada e um respeito pleno de amor. Reconhecemos que o Filho concebido pela Virgem é para nós, nas profundezas do inferno, sinal de perdão e de liberdade, e nas alturas dos céus sinal de esperança, de exultação e de glória para nós. [...] Doravante este sinal foi elevado pelo Senhor, primeiramente sobre o chão da cruz, e depois sobre o Seu trono real. [...]
Sim, é um sinal para nós esta mãe virgem que concebe e dá à luz: sinal de que este homem concebido e nascido é Deus. Este Filho que realiza obras divinas e suporta sofrimentos humanos é para nós o sinal, que levará Deus até aos homens pelos quais Ele foi concebido e nasceu, e pelos quais também sofreu.
E, de todas as enfermidades e desgraças humanas que este Deus Se dignou suportar por nós, a primeira no tempo, a maior no Seu abaixamento, parece-me ter sido sem dúvida que esta Majestade infinita tenha suportado ser concebida no seio de uma mulher e aí estar oculta durante nove meses. Onde esteve Ela tão completamente aniquilada como aqui? Quando é que A vimos despojar-Se até este ponto?
Durante todo esse tempo, esta Sabedoria não diz nada, esta Potência não opera nada de visível, esta Majestade escondida não Se revela por nenhum sinal. Nem na cruz Cristo pareceu tão fraco. [...] No seio de Maria, pelo contrário, está como se não estivesse; o Todo-Poderoso está inoperante, como se nada pudesse; e o Verbo eterno escondeu-Se no silêncio. Paz e Bem!
©Evangelizo.org 2001-2010 Publicado por Frei Fernando Maria em 20/12/2010 às 06h15
17/12/2010 09h53
DA IMITAÇÃO DE CRISTO
A Imitação de Cristo - Tomás de Kempis Livro Primeiro Avisos Úteis Para a Vida Espiritual Capítulo 1 Da imitação de Cristo e desprezo de todas as vaidades do mundo 1. Quem me segue não anda nas trevas, diz o Senhor (Jo 8,12). São estas as palavras de Cristo, pelas quais somos advertidos que imitemos sua vida e seus costumes, se verdadeiramente queremos ser iluminados e livres de toda cegueira de coração. Seja, pois, o nosso principal empenho meditar sobre a vida de Jesus Cristo.
2. A doutrina de Cristo é mais excelente que a de todos os santos, e quem tiver seu espírito encontrará nela um maná escondido. Sucede, porém, que muitos, embora ouçam frequentemente o Evangelho, sentem nele pouco enlevo: é que não possuem o espírito de Cristo. Quem quiser compreender e saborear plenamente as palavras de Cristo é-lhe preciso que procure conformar à dele toda a sua vida. 3. Que te aproveita discutires sabiamente sobre a SS. Trindade, se não és humilde, desagradando, assim, a essa mesma Trindade? Na verdade, não são palavras elevadas que fazem o homem justo; mas é a vida virtuosa que o torna agradável a Deus. Prefiro sentir a contrição dentro de minha alma, a saber defini-la. Se soubesses de cor toda a Bíblia e as sentenças de todos os filósofos, de que te serviria tudo isso sem a caridade e a graça de Deus? Vaidade das vaidades, e tudo é vaidade (Ecle 1,2), senão amar a Deus e só a ele servir. A suprema sabedoria é esta: pelo desprezo do mundo tender ao reino dos céus. 4. Vaidade é, pois, buscar riquezas perecedoras e confiar nelas. Vaidade é também ambicionar honras e desejar posição elevada. Vaidade, seguir os apetites da carne e desejar aquilo pelo que, depois, serás gravemente castigado. Vaidade, desejar longa vida e, entretanto, descuidar-se de que seja boa. Vaidade, só atender à vida presente sem providenciar para a futura. Vaidade, amar o que passa tão rapidamente, e não buscar, pressuroso, a felicidade que sempre dura. 5. Lembra-te amiúde do provérbio: Os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir (Ecle 1,8). Portanto, procura desapegar teu coração do amor às coisas visíveis e afeiçoá-lo às invisíveis: pois aqueles que satisfazem seus apetites sensuais mancham a consciência e perdem a graça de Deus. Paz e Bem! Publicado por Frei Fernando Maria em 17/12/2010 às 09h53
16/12/2010 12h06
É PRECISO PASSAR PELO DESERTO...
Bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saara
Carta ao Padre Jerónimo de 19 de Maio 1898
«Que fostes ver ao deserto?»
É preciso passar pelo deserto e aí permanecer para receber a graça de Deus; é lá que nos esvaziamos, que extraímos de nós tudo o que não é de Deus e que esvaziamos completamente esta pequena casa da nossa alma para deixar todo o espaço apenas para Deus.
Os judeus passaram pelo deserto, Moisés viveu lá antes de receber a sua missão, São Paulo e São João Crisóstomo prepararam-se no deserto. [...] O deserto é um tempo de graça, é um período pelo qual toda a alma que quer produzir frutos tem necessariamente de passar. Ela precisa deste silêncio, deste recolhimento, deste esquecimento de todo o criado, no meio dos quais Deus estabelece o Seu reino e forma nela o espírito interior: a vida íntima com Deus, a conversa da alma com Deus na fé, na esperança e na caridade. Mais tarde, a alma produzirá frutos exatamente na medida em que o homem interior se tiver formado nela (Ef 3, 16). [...] Não se dá o que não se tem e é na solidão, nesta vida apenas e só com Deus, neste recolhimento profundo da alma que esquece tudo para viver exclusivamente em união com Deus, que Deus Se dá inteiramente àquele que se dá assim a Ele. Dai-vos inteiramente somente a Ele [...] e Ele Se dará inteiramente a vós. [...]
Vede São Paulo, São Bento, São Patrício, São Gregório Magno e tantos outros, quão longos tempos de recolhimento e de silêncio! Subi mais acima: olhai para São João Batista, olhai para Nosso Senhor. Nosso Senhor não tinha necessidade disso, mas quis dar-nos o exemplo. Paz e Bem! ©Evangelizo.org 2001-2010 Publicado por Frei Fernando Maria em 16/12/2010 às 12h06
14/12/2010 11h51
PRODUZI DIGNOS FRUTOS DE PENITÊNCIA
Beato Guerric d'Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense Sermão 1 sobre São João Baptista, § 2 (a partir da trad. Brésard, 2000 ans C, p. 284) «João deu testemunho da verdade. [...] Ele era uma lâmpada que ardia e brilhava» (Jo 5, 33-35) Esta lamparina destinada a iluminar o mundo traz-me uma alegria nova, pois foi graças a ela que reconheci a verdadeira Luz que brilha nas trevas, mas que as trevas não receberam (Jo 1, 5). [...] Podemos admirar-te, João, a ti que és o maior de todos os santos; mas imitar a tua santidade, disso já não somos capazes. Dado que te apressas a preparar para o Senhor um povo perfeito de publicanos e pecadores, é urgente que lhes fales, não tanto através da tua vida, mas com uma linguagem mais ao seu alcance. Propõe-lhes um modelo de perfeição que não seja tanto segundo a tua maneira de viver, mas que esteja adaptado à fraqueza das forças humanas. «Produzi dignos frutos de penitência» (Mt 3, 8), exorta ele. Ora nós, irmãos, gloriamo-nos de falar melhor do que vivemos. Quanto a João, cuja vida é de uma sublimidade que os homens não podem compreender, coloca a sua linguagem ao alcance da inteligência destes: «Fazei dignos frutos de penitência!» «Falo-vos de maneira humana, em razão da fraqueza da carne. Se ainda não conseguis fazer o bem em plenitude, que se encontre em vós, ao menos, um arrependimento verdadeiro daquilo que está mal. Se não podeis ainda produzir os frutos de uma justiça perfeita, que a vossa perfeição consista, para já, em produzir dignos frutos de penitência.» Paz e Bem! ©Evangelizo.org 2001-2010 Publicado por Frei Fernando Maria em 14/12/2010 às 11h51
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