FREI FERNANDO, VIDA , FÉ E POESIA

A vida, como dom, é uma linda poesia divina, declamemo-la ao Senhor!

Meu Diário
18/09/2015 11h19
"SENHOR, SALVA-ME DO ABISMO DE MINHAS MÁS OBRAS".

“SENHOR, SALVA-ME DO ABISMO DE MINHAS MÁS OBRAS.”

“São lhe perdoados os seus muitos pecados.”

Quando viu as palavras de Cristo espalharem-se por toda a parte como aromas, a pecadora começou a detestar o fedor que saía dos seus próprios atos: «Não fiz caso da misericórdia que Cristo tem para comigo, procurando-me quando por minha culpa me perdi. Porque é a mim que Ele procura em todo o lado; é por mim que janta em casa do fariseu, Ele que dá alimento ao mundo inteiro. Faz da mesa um altar de sacrifício onde Se oferece, perdoando as dívidas aos devedores, para que estes se aproximem com confiança dizendo: "Senhor, salva-me do abismo das minhas más obras."»

Ali acorreu avidamente e, desprezando as migalhas, tomou o pão; mais faminta que a cananeia (cf. Mc 7,24 ss), saciou a sua alma vazia com igual fé. Não foi um apelo que a remiu, mas o silêncio, pois disse num soluço: “Senhor, salva-me do abismo das minhas más obras.”

Correu até casa do fariseu, precipitando-se na penitência. “Vamos, alma minha”, disse, “chegou o momento que tanto pedias! Aquele que purifica está aqui, porque permaneces no abismo das tuas más obras? Vou ao seu encontro, pois foi por mim que Ele veio. Deixo os amigos do passado, porque desejo apaixonadamente Este que aqui está hoje; e, como Ele me ama, dou-Lhe o perfume e as lágrimas que trago. […] O desejo pelo Desejado transfigura-me e eu amo Aquele que me ama da maneira que Ele quer ser amado. Arrependo-me e a seus pés me jogo, como Ele espera; procuro o silêncio e o retiro, como Lhe agrada. Rompo com o passado, renunciando ao abismo das minhas más obras.”[1]

Paz e Bem!

 


[1] São Romano, o Melodista (?-c. 560), compositor de hinos - Hino 21


Publicado por Frei Fernando Maria em 18/09/2015 às 11h19
 
14/09/2015 11h05
O GRANDE SINAL...

O GRANDE SINAL...

«Também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha nele a vida eterna»

Hoje Nosso Senhor Jesus Cristo está na cruz e nós estamos em festa, para que saibais que a cruz é uma festa e uma celebração espiritual. Antigamente, a cruz designava um castigo; hoje, tornou-se objeto de honra. Outrora símbolo de condenação, ei-la, hoje, princípio de salvação. Porque para nós ela é a causa de inumeráveis bens: libertou-nos do erro, iluminou-nos nas trevas e reconciliou-nos com Deus; fôramos para Ele inimigos e longínquos estrangeiros, e ela deu-nos a sua amizade e fez-nos aproximar-nos dele. A cruz é para nós a destruição da inimizade, o penhor da paz, o tesouro de mil bens.

Graças a ela, deixámos de errar pelos desertos, porque conhecemos agora o verdadeiro caminho. Não ficamos do lado de fora do palácio real, porque encontrámos a porta. Já não tememos as armas inflamadas do diabo, porque descobrimos a fonte. Graças a ela, saímos do estado de viuvez, porque reencontrámos o Esposo. Não tememos o lobo, porque temos o bom pastor. Graças à cruz, não receamos o usurpador, porque moramos ao lado do Rei.

Eis porque estamos em festa ao celebrar a memória da cruz. O próprio São Paulo nos convida à festa em honra da cruz: «Celebremos, pois, a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da pureza e da verdade» (1Cor 5,8). E deu ainda a razão para tal honra, dizendo: «Pois Cristo, nossa Páscoa, foi imolado por nós» (v.7).[1]

Paz e Bem!


[1] São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja - Homilia 1 sobre a Cruz e o Ladrão 1; PG 49, 399-401


Publicado por Frei Fernando Maria em 14/09/2015 às 11h05
 
09/09/2015 11h31
BEM-AVENTURADOS...

BEM-AVENTURADOS...

“Felizes vós, os pobres, [...] Felizes vós, os que agora chorais”

“Felizes vós, os pobres”. Nem todos os pobres são felizes, pois a pobreza é uma coisa neutra: pode haver pobres bons e maus. [...] Bem-aventurado o pobre que invoca o Senhor e Ele o atende (cf. Sl 33,7): pobre em erros, pobre em vícios, o pobre no qual o príncipe deste mundo nada encontrou (cf. Jo 14,30), o pobre que imita aquele Pobre que, sendo rico, Se tornou pobre por nós (cf. 2Cor 8,9). É por isso que Mateus dá a explicação completa: “Felizes os pobres de espírito”, pois o pobre de espírito não se ufana, não se engrandece no seu pensamento humano. Esta é, então, a primeira beatitude.

[“Felizes os mansos” escreve Mateus em seguida.] Tendo-me libertado de todos os pecados [...], estando satisfeito com a minha simplicidade, isento de mal, resta-me moderar o meu carácter. De que me serve não possuir bens materiais, se não for manso e tranquilo? Porque seguir o caminho certo é, evidentemente, seguir Aquele que diz: “Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). [...]

Dito isto, lembrai-vos de que sois pecadores: chorai os vossos pecados. Chorai os vossos erros. E é razoável que a terceira beatitude seja para aqueles que choram os seus pecados, pois é a Trindade que perdoa os pecados. Purificai-vos, pois, com as vossas lágrimas e lavai-vos com o vosso choro. Se chorardes por vós mesmos, ninguém terá de chorar por vós. [...] Todos temos os nossos mortos para chorar; morremos quando pecamos. [...] Que o pecador chore por si mesmo e se arrependa, a fim de se tornar justo, pois “o que advoga a sua causa parece ter razão” (Pr 18,17).[1]

Paz e Bem!

 


[1] Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão, doutor da Igreja - Sobre o Evangelho de São Lucas, V, 53-55


Publicado por Frei Fernando Maria em 09/09/2015 às 11h31
 
07/09/2015 11h05
EXISTE...

EXISTE AMOR MAIOR QUE O MEU?

“Os escribas e os fariseus espiavam-no, a fim de encontrarem motivo para O acusar.”

O Senhor dirá àqueles que desprezaram a sua misericórdia:

“Homem, fui Eu que, com as minhas mãos, te formei do pó da terra, fui Eu que insuflei o espírito no teu corpo de terra, fui Eu que Me dignei atribuir-te a nossa imagem e a nossa semelhança, fui Eu que te coloquei no meio das delícias do paraíso. Mas tu, desprezando os mandamentos da vida, preferiste seguir o sedutor a seguir o Senhor.”

“Consequentemente, quando foste expulso do paraíso e ficaste preso nas cadeias da morte pelo pecado, enternecido de misericórdia, Eu entrei num seio virginal para vir ao mundo, sem prejuízo para essa virgindade. Fui estendido numa manjedoura, envolvido em panos; suportei os dissabores da infância e os sofrimentos humanos, pelos quais Me fiz semelhante a ti, com o único objetivo de te tornar semelhante a Mim. Suportei as bofetadas e os escarros daqueles que se riam de Mim, bebi vinagre com fel. Flagelado com varas, coroado de espinhos, pregado à cruz, trespassado pela lança, entreguei a alma aos tormentos para te arrancar à morte. Vê a marca dos cravos com que fui pregado; vê o meu lado trespassado. Suportei estes sofrimentos para te dar a minha glória; suportei a tua morte para tu vivesses para toda a eternidade. Repousei, encerrado no sepulcro, para que tu reinasses no céu.

“Porque perdeste aquilo que sofri por ti? Porque renunciaste às graças da tua redenção? Dá-Me a tua vida, pela qual dei a minha; dá-Me a tua vida, que destróis sem cessar pelos ferimentos dos teus pecados.”[1]

Paz e Bem!


[1] São Cesário de Arles (470-543), monge, bispo - Sermões ao povo nº 57, 4


Publicado por Frei Fernando Maria em 07/09/2015 às 11h05
 
02/09/2015 10h37
ORAÇÃO DE UM SERVO INÚTIL...

Ó TU, MEU REFÚGIO E MINHA FORÇA...

“Dirigiu-Se a um lugar deserto”

Ó Tu, meu refúgio e minha força, leva-me, como outrora levaste o teu servo Moisés, ao interior do teu deserto, ao lugar onde a sarça arde sem se consumir (cf Ex 3), onde a alma, invadida pelo fogo do Espírito Santo, se torna ardente sem se consumir, mas purificando-se.

Leva-me a esse lugar onde não é possível permanecer e por onde não se avança sem antes se terem desatado as correias dos entraves carnais, onde Aquele que é não Se deixa certamente ver tal como é, mas onde, no entanto, se pode ouvi-Lo dizer: “Eu sou Aquele que sou!” Nesse lugar, temos de cobrir o rosto para não ver o Senhor face a face (1Rs 19,13), mas também temos de nos esforçar por escutar com humildade e obediência, para discernir o que Deus nos diz no interior do coração.

Enquanto espero, esconde-me, Senhor, no recôndito da tua tenda (Sl 26,5) no dia da desgraça; esconde-me ao abrigo da tua face longe das línguas provocadoras (Sl 30,21), porque me impuseste o teu jugo suave e o teu fardo leve (Mt 11,30). E, quando me fazes medir a distância entre o teu serviço e o do mundo, com voz terna e doce me perguntas se é mais agradável servir-Te a Ti, o Deus vivo, do que a deuses estranhos (2Cr 12,8). Então, eu adoro essa mão que pesa sobre mim e exclamo: “Já me dominaram por demasiado tempo outros mestres, que não Tu! Só a Ti desejo pertencer, porque o teu braço me mantém erguido!”[1]

Paz e Bem!

 

 


[1] Guilherme de Saint-Thierry (c. 1085-1148), monge beneditino, depois cisterciense - Meditações


Publicado por Frei Fernando Maria em 02/09/2015 às 10h37



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