UMA CRÔNICA FRANCISCANA: AH! FRANCISCO DE ASSIS, COMO TENHO SAUDADE DE TI...
Ah! Francisco de Assis, como tenho saudade de ti. Sem teorias, te servias dos Evangelhos e das Sagradas Escrituras como Palavras de Deus a serem obedecidas e praticadas fielmente, com todas as virtudes do Espírito Santo presentes em nossa vida desde que fomos batizados. Quanta singeleza em teus ensinamentos e exemplos a serem seguidos: “A Regra e a vida dos frades menores é esta: observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem propriedade e em castidade”. (RB). “E abstenham-se os irmãos e seus ministros de se incomodar com as suas coisas temporais, para que eles, como o Senhor lhes inspirar, disponham delas com liberdade”. (RB). “Os irmãos, aos quais o Senhor deu a graça de trabalhar, trabalhem com fidelidade de maneira que afugentem o ócio, inimigo da alma, e não percam o espírito de oração e piedade, ao qual devem servir todas as coisas temporais”. (RB). “Os irmãos não tenham propriedade sobre coisa alguma, nem sobre casa, nem lugar, nem outra coisa qualquer; mas, como peregrinos e viandantes (cf. lPd 2,11) que neste mundo servem ao Senhor em pobreza e humildade, peçam esmolas com confiança; disso não se devem envergonhar, porque o Senhor se fez pobre por nós, neste mundo (cf. 2Cor 8,9)”. (RB). “E onde quer que estiverem e se encontrarem os irmãos, mostrem-se afáveis entre si. E, com confiança, manifeste um ao outro as suas necessidades, porque, se uma Mãe ama e nutre seu filho carnal (cf. lTs 2,7), com quanto maior diligência não deve cada um amar e nutrir a seu irmão espiritual? (RB). “E tomem cuidado em não se encolerizar ou perturbar com o pecado de alguém, porque ira e perturbação entravam a caridade em si e em outros”. (RB). “Também admoesto e exorto os mesmos irmãos a que, nos sermões que fazem, seja a sua linguagem ponderada e piedosa (cf. Sl 11,7 e 17,31), para utilidade e edificação do povo, ao qual anunciem os vícios e as virtudes, o castigo e a glória, com brevidade, porque o Senhor, na terra, usou de palavra breve (cf. Rm 9,28)”. (RB). “Mas cuidem que, antes de tudo, devem desejar o espírito do Senhor e seu santo modo de operar: rezar sempre a Deus com coração puro; ser humilde e paciente nas perseguições e enfermidades; amar aqueles que nos perseguem, censuram e atacam; porque diz o Senhor: “Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem e caluniam. Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos céus”. (RB). Eis alguns dos ensinamentos do nosso seráfico pai, São Francisco, aos quais devemos dar toda atenção e acolhimento na certeza que eles são a via de perfeição que levou ele e milhares de irmãos atingirem a santidade de vida, à qual todos somos chamados, pois sem essa santidade, verdadeiro passaporte divino, ninguém entra no Reino dos céus. Em nossos dias, falamos tanto, discutimos tanto, e, no entanto, quase nenhuma mudança interior e exterior apresentamos; é como se o muito falar nos cause exaustão demasiada ou uma espécie de cansaço espiritual estéril. Ou nos unimos ao Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar, como o fez e ensinou nosso seráfico pai, São Francisco, ou só vamos carregar dele o nome, “franciscanos”, mas não o seu exemplo de santidade e amor incondicional ao crucificado e à causa do seu reino de amor. Hoje em dia ainda se fala muito de “opção preferencial pelos pobres”. Creio que há um certo equívoco nessa fala, pois quando pensamos e falamos sobre os pobres e a pobreza, pensamos quase sempre em termos de posses materiais; quando na verdade pobre é todo homem que se deixa dominar pelo pecado. Ora, Jesus veio para nos libertar do pecado e de tudo aquilo que nos causa o pecado, por isso, Ele disse: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará”. Pois, “Em verdade, em verdade vos digo: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo”. (Jo 8,32.34). Logo, pobres e pobreza não devem ser entendidos só nestas duas dimensões, mas também na dimensão que o Senhor nos mostra em sua bem aventurança: “Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!” (Mt 5,3). Ou seja, a pobreza como virtude evangélica. Nesse sentido, a pobreza franciscana é uma das virtudes do Espírito Santo e um dos carismas de nossa Ordem por excelência; é ela que nos leva a depender da providência divina que nunca falha; e que, por isso mesmo, nos faz ricos de todas as outras virtudes do Espírito. Assim, ela é a mais sublime herança que podemos adquirir neste mundo. Com efeito, como carisma essencial, a pobreza não precisa ser discutida, mas simplesmente ser vivida como São Francisco a viveu e ensinou, a partir das Palavras de nosso Senhor Jesus Cristo: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á. Que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro, se vem a prejudicar a sua vida? Ou que dará um homem em troca de sua vida?... Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai com seus anjos, e então recompensará a cada um segundo suas obras”. (Mt 16,24-27). A respeito da fraternidade franciscana, creio que também não é preciso teorias para explica-la, basta-nos os exemplos de fraternidade de São Francisco e dos outros confrades que com ele conviveram, tendo como base as Palavras do Senhor: “amai-vos uns aos outros como eu vos amo” (Jo 15,12). Ou seja, o ser fraterno é uma graça especial na vida de todos os consagrados por sua condição religiosa, pois ser fraterno é ser amor, é amar, é conviver bem com os outros; e isso é um privilégio que Deus dá sempre aos seus filhos e filhas, principalmente aos que lhes são consagrados por toda vida. A minoridade é também um carisma nosso que não precisa de outro entendimento fora deste que o Senhor já nos deu: “Todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo; e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos. Porque o Filho do homem não veio para ser servido, as para servir e dar a sua vida em redenção por muitos”. (Mc 10,43-45). E, conventualidade, o que é? É São Francisco suspendendo o próprio jejum para se alimentar com o irmão que chora por não suportar o rigor do jejum. Ou seja, é está presente na vida e necessidade dos irmãos e lhes ser solidário. Conventualidade é são Francisco indicando o caminho vocacional do frade que achava improvável guardar a castidade; ou seja, é criar condições para se ter um discernimento preciso a respeito da vocação franciscana, ou uma outra vocação. Conventualidade é São Francisco nunca mandar algo contra os mandamentos do Senhor e a regra da ordem, isto é, nunca mandar algo contrário à salvação da alma ou da observância da regra. Enfim, conventualidade, é ser convento, isto é, lugar da morada do Senhor. Portanto, cuidemos, pois quanto mais palavras, menos prática; porém, quanto mais oração e convivência com Deus e os irmãos, mais virtudes vividas e exemplos de vida. É esta a herança que recebemos de São Francisco e que não podemos desperdiçar com nossa vontade própria. Por exemplo: o que Deus falou em tua oração? E, o que vás fazer? Caso contrário tua oração é estéril, sem fruto. Frade sem vida de oração é frade a caminho da perda da fé e da própria vocação, por lhe faltar a intimidade do Senhor; pois tanto a fé quanto a intimidade tem na oração seu crescimento e a disposição para servir o Senhor na pessoa dos irmãos e do povo de Deus presente em nossa realidade. Nosso próximo é todo aquele que Deus nos dá para cuidar. Paz e Bem! Frei Fernando Maria,OFMConv. Frei Fernando Maria
Enviado por Frei Fernando Maria em 02/09/2013
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